sábado, 2 de novembro de 2013

Argumentar no Brasil é tão fácil que nem precisa pensar

Blog de Ricardo Noblat:  O Globo

A internet se encheu de gritos de maldição contra os articulistas e o jornal que os contratou, leitores anunciaram que cancelariam as suas assinaturas e, fato inusitado, a coluna de estreia de Azevedo, sobre a ação de libertação dos beagles de um instituto de pesquisas científicas, levou a ombudsman do jornal a classificar delicadamente o colunista como um “rotweiller”- o que ela explicou depois, claro, era só uma força de expressão.

Um caso claro de intolerância ideológica, que pode ser facilmente curado por duas providências simples: ou deixar de ler o jornal ou continuar lendo o jornal mas não ler os colunistas desagradáveis. Rebater argumentos e tentar provar com fatos que os deles estão errados e que os seus estão certos nem pensar. Isso dá muito trabalho. Negar em bloco e chamar de “fascista” facilita a vida. Desqualificar sempre, debater nunca. (...)

Mais grave do que isso foi o que aconteceu numa feira literária em Cachoeira, no interior da Bahia, quando ativistas armados apenas pelas suas bordunas de intolerância intelectual impediram, aos gritos, que se realizassem os debates entre o sociólogo Demétrio Magnoli e a cientista social Maria Hilda Baqueiro Paraíso e o filósofo Luiz Felipe Pondé e o sociólogo francês Jean -Claude Kafmann.

Magnoli e Pondé foram impedidos de falar - como Yoani Sanchez já havia sido impedida meses atrás - por pessoas que os xingavam de “fascistas”. Exemplo perfeito daquilo que os franceses chamam de “glissement semantique”- ou deslizamento de sentido das palavras.

O bico do tentilhão: Resenha: "Esquerda Caviar" do economista carioca Rodrigo Constantino

Muitos esquerdistas, por motivos diversos, não veem problema em defender o socialismo e servir-se dos recursos abastados que o capitalismo lhe proveu ou que apenas ele pode prover ("ser de esquerda não é fazer voto de pobreza" disse Sakamoto certa vez). Contudo, resta a pergunta: como o sujeito, dado seu referencial teórico (o socialismo), pode condenar o acúmulo de riqueza, pois segundo ele, "a 'mais-valia' é roubo" e condenar o método pelo qual qualquer um pode chegar à riqueza (o capitalismo de livre mercado) e deleitar-se com vinhos caros, viagens chiques e produtos eletrônicos oriundos de empresas "exploradoras" que "destroem o meio ambiente"?

O Pensador Coletivo -- Demétrio Magnoli

Um centro político define pautas, escolhe alvos e escreve uma coleção de frases básicas. Os militantes as difundem, com variações pequenas, multiplicando suas vozes pela produção em massa de pseudônimos. No fim do arco-íris, um Pensador Coletivo fala a mesma coisa em todos os lugares, fazendo-se passar por multidões de indivíduos anônimos. (...)

O Pensador Coletivo se preocupa imensamente com a crítica ao governo. Os sistemas políticos pluralistas estão sustentados pelo elogio da dissonância: a crítica é benéfica para o governo porque descortina problemas que não seriam enxergados num regime monolítico. O Pensador Coletivo não concorda com esse princípio democrático: seu imperativo é rebater a crítica imediatamente, evitando que o vírus da dúvida se espalhe pelo tecido social. (...)

O Pensador Coletivo abomina argumentos específicos. Seu centro político não tem tempo para refletir sobre textos críticos e formular réplicas substanciais. (...) O Pensador Coletivo interpreta o debate público como uma guerra. "A guerra de guerrilha na internet é a informação e a contrainformação", explica o deputado André Vargas, um chefe do MAV. No seu mundo ideal, os dissidentes seriam enxotados da praça pública. (...) O Pensador Coletivo é uma máquina política regida pela lógica da eficiência, não pela ética do intercâmbio de ideias.

O perigo das minorias violentas | Paulo Roberto Silva no Amálgama

Contudo, a vanguarda formada em dez anos de mobilização pós-moderna viu nos seus novos parceiros um perigo, e confundiu as coisas. Desencadeou-se a campanha contra os “coxinhas”, que atuou para desmobilizar de imediato e retomar o movimento apenas com velhos companheiros. (...)

Na falta de massas, os ativistas entraram na onda de glamourizar os black blocs. Assim, são black blocs para defender os professores grevistas do Rio de Janeiro, black blocs para invadir o Instituto Royal e destruir pesquisa científica. Eles se tornaram o braço armado do movimento social. (...) Ao invés de promover a autodefesa do movimento, como dizem seus defensores, os radicais, black blocs ou não, se envolveram na destruição de pesquisa científica ao invadir o Instituto Royal, na invasão de salas de aula de Medicina, em ações que interromperam o fluxo de trens na periferia de São Paulo em pleno horário de pico e no bloqueio do debate com intelectuais contrários ao movimento, como o que aconteceu com Demétrio Magnoli e Luís Felipe Pondé na Flica.

Folha de S.Paulo - Cotidiano - Violência de 'black blocs' é 'uma barbárie', afirma Dilma a rádios do Paraná - 30/10/2013

"Eu defendo qualquer manifestação democrática. Agora, sem sombra de dúvida, eu acredito que a violência dos mascarados não é democrática, é antidemocrática, é uma barbárie, e acho que ela tem de ser coibida", afirmou, em entrevista às rádios Banda B e Cultura.

Dilma repudia manifestação ‘fascista’ no país - Jornal O Globo

Em entrevista concedida na manhã desta sexta-feira a duas rádios da capital baiana, onde esteve para inaugurar uma via expressa, que liga a BR-324 ao Porto de Salvador, a presidente reafirmou seu apoio a manifestações pacíficas, mas repudiou o uso da violência.

— Nós devemos repudiar, mais do que o uso da violência, o fato de estarem tampadas as faces das pessoas que destroem patrimônio público e privado, provocam ferimentos, machucam e mostram não a civilização e a liberdade da democracia, mas a barbárie. (...) Tem vários lugares do mundo que o método é simplesmente você isolar os manifestantes que fazem esse vandalismo e deixar claro quem são, prendê-los e, obviamente, processá-los. A base da democracia é que cada um, do ponto de vista da lei, responda pelos seus atos.

fonte: Estadão
.fonte: Estadão

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