quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Capitalismo entre amigos

‘Eike, emblema e indício’, um artigo de Demétrio Magnoli no Estadão | Augusto Nunes

Eike Batista valia US$ 1,5 bilhão em 2005, US$ 6,6 bilhões em 2008, US$ 30 bilhões em 2011 e US$ 9,5 bilhões em março passado, depois de 12 meses em que seu patrimônio encolheu num ritmo médio de US$ 50 milhões por dia.(...)

A história de Eike é, antes de tudo, um emblema do capitalismo de Estado brasileiro. Durante o regime militar, Eliezer Batista circulou pelos portões giratórios que interligavam as empresas mineradoras internacionais à estatal Vale do Rio Doce. Duas décadas depois seu filho se converteu no ícone de uma estratégia de modernização do capitalismo de Estado que almeja produzir uma elite de megaempresários associados à nova elite política lulista. (...)

Dez anos atrás o BNDES não era “o melhor banco do mundo”. Alcançou essa condição por meio de uma expansão assombrosa de seu capital deflagrada no final do primeiro mandato de Lula da Silva. A mágica sustentou-se sobre o truque prosaico da transferência de recursos do Tesouro Nacional para o BNDES.  (...)

A saga da célere ascensão e do ainda mais rápido declínio do Grupo X contém uma profusão de pistas, ainda não exploradas, das relações perigosas entre o círculo interno do lulismo e o mundo dos altos negócios. Na condição de “consultor privado”, em julho de 2006 o ex-ministro José Dirceu viajou à Bolívia, num jatinho da MMX, exatamente quando o governo de Evo Morales recusava licença de operação à siderúrgica de Eike. Nos anos seguintes, impulsionado por um fluxo torrencial de dinheiro do BNDES, o Grupo X atravessou as corredeiras da fortuna. Durante a travessia, em 2009 o empresário contou com o beneplácito de Lula para uma tentativa frustrada de adquirir o controle da Vale, pela compra a preço de oportunidade da participação acionária dos fundos de pensão, do BNDES e do Bradesco na antiga estatal. Naquele mesmo ano o fracasso de bilheteria Lula, o Filho do Brasil, produzido com orçamento recordista, contou com o aporte de R$ 1 milhão do empreendedor X.

5 lições da queda do Império X para o Brasil - Luciano Sobral - Estadao.com.br...

Ainda está para chegar uma conta precisa do prejuízo do grupo X para o Tesouro Nacional. (...) A tentação de criar atalhos para um mercado de crédito ainda tímido e acelerar a consolidação de alguns mercados esbarrou em interesses políticos e baixa capacidade de execução. O aumento na dívida bruta e a consequente piora da percepção da qualidade do crédito soberano, a carteira da BNDESPAR repleta de ações subscritas a preços que não fazem sentido mesmo para o nível de otimismo manteguiano e o embaraço de políticos abraçando Eike e declarando-o como símbolo do “Brasil que dá certo” serão legados inconvenientes para o governo nas próximas eleições e para a economia nos próximos anos. (...)


O “império X” criou milionários [...] antes da OGX extrair seu primeiro barril de petróleo. Pior ainda que isso tenha envolvido a chancela do governo, se não tanto com dinheiro, com legitimação dos projetos. Se é verdade que no capitalismo brasileiro faltam empreendedores, os incentivos mostrados nesse caso apontam que vale mais ter boas conexões e relações públicas do que entregar retornos e, depois, colher os frutos. Não é esse tipo de empreendedor que o país precisa criar, mas talvez seja dos poucos viáveis, ou que nossas intistuições incentivam.

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